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Festival homenageia programa de rádio que marcou a cena punk do Brasil
Evento cultural leva adiante o legado do 'Rota 77', programa que deu voz à periferia e à música independente
Por Rádio Serraria
Publicado em 24/09/2025 18:56
Música
O apresentador Barata Silva (esq.), no estúdio da Rádio Antena Zero, com a equipe da emissora - 2016/2020

O Festival Rota 77, que chega à sua quinta edição em São Bernardo do Campo, carrega em seu nome uma homenagem direta ao programa de rádio homônimo que marcou época na cena punk e alternativa no Brasil e no mundo. 

O “Rota 77” foi transmitido em seus primeiros anos em algumas rádios online da internet, com foco em bandas de punk rock, cultura alternativa e cobertura de shows e agitos que aconteciam na periferia das grandes cidades e do interior. “O programa nasceu da necessidade de dar voz a quem não tinha espaço algum nem na chamada 'mídia alternativa' como a 89FM e Kiss FM, de São Paulo”, diz o jornalista Marco Ribeiro, editor-chefe dos portais das rádios Serraria, Mosquitoshow e Rádio Base Urgente e o primeiro editor e co-apresentador da atração, que surgiu em setembro de 2003. O primeira festa do programa foi em novembro de 2.004: "Foi uma coisa totalmente mambembe. Eu e o Barata nem queríamos fazer nada porque não tínhamos grana. Mas as bandas que a gente tocava - muitas delas - fora de São Paulo, insistiram que a gente tinha que comemora o primeiro aniversário no ar e a Andrea Japonesa, amiga nossa organizou tudo na cara e na coragem. Foram três dias de show - dois no extinto Bar do Bal, na Vila Baronesa (na Zona Sul da capital) e um dia no também extinto 'Clubinho', no Centro de Diadema", diz Barata, vocalista da banda DZK, idelizador, produtor e apresentador do "Rota 77" desde o seu início. 

"Nos dois dias no Bar do Bal, teve gente que assistiu ao show do lado de fora porque no local mal cabiam 70 pessoas e ao longo da noite passaram por lá mais de 400 garotos e garotas punks. Felizmente, não deu confusão nem briga com outras tribos ou entre o próprio pessoal daquele grupo o que era muito comum na época", relembra o veterano músico, com mais de 40 anos de estrada. "Mas o Barata, a banda dele e o programa tinham tanta moral que a turma respeitava quando a gente pedia para não arranjarem confusão, nem aceitar provocação de quem quer que fosse," relembra o Ribeiro. "Muitas vezes nem precisava pedir, acho que o pessoal sabia o quão difícil era produzir e divulgar (e também ouvir) nosso som e conseguir espaços para fazer uma gig punk. Os donos de bar e de casas noturnas ou diretores de centros culturais sempre viam o punk com desconfiança, achando que poderia dar confusão. Mas, felizmente, na grande maioria dos shows corria tudo bem", diz Barata. 

Com linguagem direta e atitude contestadora, o programa se tornou referência entre jovens músicos e ativistas. “A gente tocava o que ninguém mais tocava: punk, hardcore, crust e toda linha do rock alternativo nacional e estrangeiro. E falava das dores e das alegrias da periferia sem filtro”, afirma Ribeiro. O nome “Rota 77”, criado por Barata, fazia alusão tanto à sonoridade punk dos anos 1970 quanto à ideia de rota alternativa, fora dos caminhos convencionais da indústria cultural.

Tempos atuais - O festival de fato surgiu como uma extensão natural desse movimento. “A ideia era transformar o que era só som em ação: ocupar espaços públicos, reunir bandas, fazer a periferia vibrar”, explica o produtor cultural Marco Aurélio. Desde sua primeira edição, o Festival Rota 77 tem reunido artistas de diversas vertentes do rock e do punk, sempre com entrada gratuita e estrutura voltada à inclusão. A curadoria mantém o espírito do programa original, "priorizando bandas que dialogam com questões sociais e que representam a diversidade cultural da região", afirma o Aurélio.

Mais do que um evento musical, o Festival Rota 77 é um símbolo de resistência e memória, dizem seus atuais produtores. Ao manter vivo o nome e os ideais do programa de rádio que o inspirou, o festival reafirma seu compromisso com a cultura popular e com a democratização do acesso à arte. “O Rota 77 nunca foi só sobre música. Era sobre pertencimento, sobre dizer: nós também estamos aqui”, opina Marco Aurélio. A quinta edição promete ser a maior até agora, com estrutura ampliada e novas parcerias, mantendo firme o propósito de transformar a cidade por meio da cultura.

 

Para saber mais sobre o programa:

https://radiobaseurgente.blogspot.com/2018/09/rota-77-o-programa-de-rock-mais-antigo.html

https://hmbreakdown.blogspot.com/2014/06/manoel-barata-punk-sempre.html

https://mapacultural.maua.sp.gov.br/agente/1110/#info

https://www.facebook.com/programarota77/

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