Por Wilson Ribeiro
Nesses 13 anos do regime de Kim Jong-un, na Coreia do Norte, um total de 134 desertores norte-coreanos de elite foram confirmados, 80 a mais depois que Kim Jong-un assumiu o poder.
A proporção dos desertores pertencentes à elite norte-coreana aumentou em 5,3 vezes, e as manifestações contrárias da classe média ao regime norte-coreano também vêm aumentando. Em particular, o número de trabalhadores altamente qualificados e profissionais, tais como diplomatas, expatriados e estudantes internacionais, está crescendo constantemente.
O caso de Ri Il-gyu, o diplomata norte-coreano de alto escalão que veio para a Coreia do Sul, no início de novembro de 2023, demonstra bem a situação. Outro caso similar foi a deserção de Tae Yong-ho em 2016, que foi Ministro na Embaixada da Coreia do Norte no Reino Unido.
O conselheiro Ri atuou como responsável político em Cuba desde abril de 2019 e tinha como uma de suas funções o papel de impedir o estabelecimento de relações diplomáticas entre a Coreia e Cuba até 2023. Ele recebeu elogios de Kim Jong-un por negociar com o governo do Panamá para suspender a detenção do navio norte-coreano e libertar o capitão e a tripulação que tentaram carregar mísseis terra-ar e peças de caças pelo Canal do Panamá.
Na entrevista realizada com Ri Il-gyu pelo jornal coreano ‘Chosun-Ilbo’, ele afirmou que sua deserção aconteceu devido à "desilusão com o regime norte-coreano e a um futuro sombrio", e que os outros norte-coreanos também pensariam como ele, querendo viver na Coreia do Sul.
Os norte-coreanos que tentam desertar, e que foram capturados, enfrentam punições severas, incluindo a morte, de acordo com grupos de direitos humanos e desertores que tiveram sucesso. Menos desertores norte-coreanos têm chegado à Coreia do Sul nos últimos anos, devido aos limites rígidos nas passagens de fronteira com a China.
Além do aumento do número de diplomatas desertores norte-coreanos, o que chama a atenção é o sucessivo encerramento de embaixadas norte-coreanas no exterior.
De acordo com a análise do Ministério da Unificação da Coreia do Sul sobre a situação, o negócio de obtenção de moeda estrangeira das embaixadas da Coreia do Norte no exterior foi interrompido devido ao fortalecimento das sanções pela comunidade internacional, e a manutenção das embaixadas.
Numa entrevista à BBC Coreia, Kwak Gil-seop, CEO do One Korea Center, que serviu como analista da Coreia do Norte para o Serviço Nacional de Inteligência durante 30 anos, disse: “Os diplomatas norte-coreanos vivem no exterior, têm melhor condição para desertar do que os residentes comuns, desde que estejam livres da pressão dos seus filhos e famílias na Coreia do Norte.”
Em 2023, 196 desertores norte-coreanos chegaram a Seul, comparado a 2.700 há uma década, informações confirmadas pelo governo sul-coreano. A maioria deles viveu durante muito tempo no exterior, como o diplomata Ri II Kyu, afirmam ativistas de direitos humanos.
Enquanto isso, o Presidente Sul-Coreano, Yoon Suk-Yeol, ainda adotou uma abordagem mais agressiva em relação à Coreia do Norte e à política externa em geral, em comparação com o seu antecessor, Moon Jae-In. Ele apoia sanções contra o regime de Kim Jong-Un e prometeu desenvolver tecnologia militar para realizar um ataque preventivo à Coreia do Norte, caso ela tente atacar Seul.
A última deserção ocorre num momento de tensões elevadas entre as duas Coreias. E ainda, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, abandonou formalmente o objetivo de reunificação com a Coreia do Sul, tendo também definido recentemente a Coreia do Sul como "principal inimigo", uma reviravolta dramática em relação ao que era definido apenas seis anos atrás.
A Coreia do Norte vem lançando balões de propaganda ao longo de suas cidades fronteiriças, com lixo e parasitas. Além disso, no início de Junho, Pyongyang alegou ter testado um míssil de ogiva nuclear avançado, causando ainda mais preocupação sobre a situação e aumentando a tensão entre as Coreias.