Por Kang Eun Jung* 

Odiei mais a Coreia do Norte do que senti falta dela porque ela me deixou com feridas mais tristes e dolorosas do que boas lembranças. Agora, na Coreia do Sul, onde posso recuperar o valor da vida e realizar os meus sonhos, as feridas que recebi na Coreia do Norte estão a sarar uma a uma, mas quanto mais vivo a minha vida livremente, mais o meu coração dói pelos meus compatriotas que estão ainda lutando naquele sombrio solo norte-coreano.

Após fortes chuvas no mês passado, o rio Yalu, na Coreia do Norte, transbordou, causando inundações em algumas áreas. Em Sinuiju-si, mais de 4.100 casas, edifícios públicos, estradas, ferrovias e terras agrícolas, etc., teriam sido submersos. O Yanggang-do, onde eu morava, também foi inundado, o que me fez sentir ainda mais dor. Gostaria de olhar para a irresponsabilidade do regime norte-coreano, que sofre repetidamente mais danos do que qualquer outro país durante o estação das monções.

Em primeiro lugar, uma vez que a Coreia do Norte não dispõe, em grande parte, de qualquer tipo de sistema de gás, excepto para algumas famílias de alto escalão, os norte-coreanos têm de depender do carvão ou da madeira como combustível, que as autoridades norte-coreanas exportam em grandes quantidades para a China por razões como o partido fundos e ganhos em moeda estrangeira.

Como resultado, as montanhas próximas às residências ficaram nuas porque todas as árvores desapareceram, então sempre que chega a estação das chuvas ocorrem deslizamentos de terra e inundações, o que causa grandes danos aos moradores e eles gritam de frustração. Os danos da Coreia do Norte causados ​​pelas chuvas torrenciais são também o resultado de um sistema deficiente de resposta a catástrofes. O regime de Jong-un Kim está a construir freneticamente armas de destruição maciça, incluindo armas nucleares e mísseis, etc., e se o dinheiro para desenvolvê-las tivesse sido usado para evitar danos causados ​​pelas inundações, os danos não teriam sido tão graves. O regime norte-coreano enfatiza os esforços do povo norte-coreano enquanto o controla através de uma ditadura fechada, sem tomar quaisquer medidas fundamentais. A Coreia do Norte deveria perceber claramente que está a chegar o dia em que o ressentimento do seu povo varrerá o regime.

A organização internacional respondeu aos danos causados ​​pelas inundações na Coreia do Norte com uma oferta de ajuda. Em 1º de agosto, o governo sul-coreano ofereceu-se para enviar ajuda aos norte-coreanos afetados pelas enchentes por meio da Cruz Vermelha Coreana. Jong-un Kim, no entanto, acusou a Coreia do Sul de exagerar os danos causados ​​pelas inundações e disse que o “inimigo é um inimigo imutável”. Jong-un Kim continua a concentrar-se no espectáculo, mesmo que os danos causados ​​ao seu povo sejam graves e a recuperação das cheias seja urgente.

Ele recusa a oferta de ajuda do governo sul-coreano, dizendo que ama o povo e se concentra em culpar, em vez de restaurar, os danos. Entretanto, o sofrimento e os danos sofridos pelos norte-coreanos só aumentarão e a confiança no regime de Jong-un Kim e nas autoridades norte-coreanas irá despencar. O regime de Jong-un Kim não deveria mais concentrar-se na transferência de culpas e na corrida armamentista que tira a força vital das pessoas, mas deveria concentrar-se em investir fundos para melhorar a vida das pessoas.

*Youtuber, ativista norte-coreano de direitos humanos. Há mais de uma década vive "exilado" fora da Coreia do norte